domingo, 1 de abril de 2007

Ópera e cultura européia.


Teatro Nacional de São Carlos. Aberto em 30 de Julho de 1793 pela Rainha D. Maria I, em substituição da Ópera do Tejo, destruída pelo terremoto de 1755.

Interessante e esclarecedora sobre o personagem é a entrevista ao ex-director artístico do Teatro de São Carlos, o italiano Paolo Pinamonti, feita pelo Expresso de ontem. A conversa revela alguma ingenuidade política de Pinamonti, o que pode explicar o seu despedimento inesperado, levado a cabo por um secretário de estado que foi seu colega no Erasmus. Por outro lado, o músico e filósofo de formação demonstra que percebe de Ópera, o objecto do seu pelouro. Vai aqui um excerto da entrevista (jornalistas Filipe Santos e Luciana Leiderfarb):
E: "Cada vez mais se olha para a cultura como um negócio. Porque é que a ópera não pode ser rentável?"
P: "Por uma lei económica básica. Como é que uma coisa se torna rentável? porque se reduz o tempo de produção. E também porque se reduzem os custos – e temos de reconhecer que boa parte da rentabilidade económica do mundo ocidental depende da exploração, nalguns casos quase escravatura, de outros mundos. Na ópera não há isso. E não é possível reduzir o tempo de produção. Tocar o "Orfeu" de Monteverdi hoje demora tanto como há 400 anos. Economicamente não era rentável nessa altura, como poderia ser rentável agora? Mas, se a ópera sobreviveu, há razões para isso, até económicas. A razão económica que fez surgir os teatros de ópera em Veneza no Séc. XVII foi a rentabilização dos palácios, das grandes propriedades imobiliárias dos nobres. Em vez de ter palácios vazios, construiam salas de ópera".
E: "E porque é que no Séc. XXI o Estado há-de financiar um espectáculo a que poucos têm acesso"?
P: "Eu entendo que é obrigação do Estado assumir este encargo, como assume com as escolas, as faculdades, os centros de pesquisa. É um dever cívico preservar e manter viva a cultura, da qual a música e a ópera, é parte importante. Olho para a ópera como uma forma de conhecer, de partilhar emoções, de encarar o mundo, que é própria da Europa.Estamos a celebrar os 50 anos do Tratado de Roma e é bom que tenhamos consciência de que a única verdadeira forma cultural que a Europa mantém e que exportou com sucesso para o mundo é a ópera."

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