
Teatro Nacional de São Carlos. Aberto em 30 de Julho de 1793 pela Rainha D. Maria I, em substituição da Ópera do Tejo, destruída pelo terremoto de 1755.
Interessante e esclarecedora sobre o personagem é a entrevista ao ex-director artístico do Teatro de São Carlos, o italiano Paolo Pinamonti, feita pelo Expresso de ontem. A conversa revela alguma ingenuidade política de Pinamonti, o que pode explicar o seu despedimento inesperado, levado a cabo por um secretário de estado que foi seu colega no Erasmus. Por outro lado, o músico e filósofo de formação demonstra que percebe de Ópera, o objecto do seu pelouro. Vai aqui um excerto da entrevista (jornalistas Filipe Santos e Luciana Leiderfarb):
E: "Cada vez mais se olha para a cultura como um negócio. Porque é que a ópera não pode ser rentável?"
P: "Por uma lei económica básica. Como é que uma coisa se torna rentável? porque se reduz o tempo de produção. E também porque se reduzem os custos – e temos de reconhecer que boa parte da rentabilidade económica do mundo ocidental depende da exploração, nalguns casos quase escravatura, de outros mundos. Na ópera não há isso. E não é possível reduzir o tempo de produção. Tocar o "Orfeu" de Monteverdi hoje demora tanto como há 400 anos. Economicamente não era rentável nessa altura, como poderia ser rentável agora? Mas, se a ópera sobreviveu, há razões para isso, até económicas. A razão económica que fez surgir os teatros de ópera em Veneza no Séc. XVII foi a rentabilização dos palácios, das grandes propriedades imobiliárias dos nobres. Em vez de ter palácios vazios, construiam salas de ópera".
E: "E porque é que no Séc. XXI o Estado há-de financiar um espectáculo a que poucos têm acesso"?
P: "Eu entendo que é obrigação do Estado assumir este encargo, como assume com as escolas, as faculdades, os centros de pesquisa. É um dever cívico preservar e manter viva a cultura, da qual a música e a ópera, é parte importante. Olho para a ópera como uma forma de conhecer, de partilhar emoções, de encarar o mundo, que é própria da Europa.Estamos a celebrar os 50 anos do Tratado de Roma e é bom que tenhamos consciência de que a única verdadeira forma cultural que a Europa mantém e que exportou com sucesso para o mundo é a ópera."
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